Acervo Digital Doutor Onésimo Silveira (1935-2021)

Onésimo Silveira, nascido em São Vicente a 16 de fevereiro de 1935 e falecido a 29 de abril de 2021, foi uma figura notável na história de Cabo Verde. Filho de Eufémia Silveira, conhecida como Mari Bibi, uma vendedora do mercado, e de João Manuel Silveira, conhecido como João Dóia, um "catador" da baía do Porto Grande, Silveira cresceu entre o Lameirão, Baleia e a cidade do Mindelo. Estudou no liceu Gil Eanes tendo terminado no ano de 1947. Partiu para Portugal no ano de 1951, onde, financiado pela mãe, estudou enfermagem, tendo desistido do curso no ano de 1952, e assim começar a trabalhar para o que realmente gostava, a política, acabando assim por regressar a Cabo Verde no mesmo ano.
Em Portugal, Onésimo frequentou a Casa dos Estudantes do Império (CEI), onde teve contato com estudantes de outras colônias e despertou para o nacionalismo africano. Entre 1956 e 1959, viveu clandestinamente em São Tomé, trabalhando como meteorologista e animador de rádio. Durante esta estadia Onésimo publicou na revista Claridade o seu poema “Saga” no mês de maio de 1958. Já na data de 1 de junho de 1959 fez uma outra publicação no Boletim de Cabo Verde, sendo desta vez um conto intitulado de “A noite”. Um ano depois, em 1960, fixa-se em Angola, onde publicou sua obra "Toda a gente fala: sim senhor", abordando a situação dos contratados em São Tomé e Príncipe.
Silveira enfrentou perseguição política da PIDE (polícia política do regime) quando em agosto de 1961 é preso no Luso. Após a sua libertação publica “Hora Grande” no ano de 1962 ainda em Angola. No período que Onésimo regressa a Portugal é detido em Coimbra e em Lisboa pela PIDE novamente, no ano de 1963. Apesar de todas estas controvérsias Onésimo publica em Lisboa “Consciencialização na Literatura Caboverdiana”. Com a perseguição da polícia política, Silveira decide ir para Cabo Verde, mas este acaba também por ser detido a novembro da época de 63 para prestar declarações. Mas mesmo tendo sido libertado teve restrição de saída do país a 16 de janeiro de 1964, apesar disso acaba por fugir de Cabo Verde para a Holanda num navio mercante a 1965 para se juntar ao PAIGC (partido africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde), com esta mudança passa, em outubro de 1966, a representante deste mesmo partido e a 29 de outubro desse ano vai a Londres proferir uma conferencia. 
Com o desenvolver da sua carreira política a 1968 ganha mais visibilidade na Europa porque o seu livro é traduzido para francês (“Consciencialização na Literatura Caboverdiana”) e pouco tempo depois publicou no Le Monde Diplomatique, o Artigo “Le Particularisme de îles do Cap Vert etl’unité nationale” a maio de 1974. Após toda esta interação com o mundo político fixou residência na China, onde trabalhou como professor e tradutor de Mao Tsé-Tung. Mais tarde, volta para Uppsala e defende a sua tese de doutoramento “Africa South of the Sahara-Party Sistems and Ideologies os Socialism” no ano de 1976 (que é traduzida para português no ano de 2004 “África ao sul do Sahara: sistemas de partidos e ideologias de socialismo”).
De volta a Cabo Verde, Onésimo teve uma carreira política ativa. Foi o primeiro presidente eleito da Câmara Municipal de São Vicente (1991-2002), deputado da Nação, embaixador de Cabo Verde em Portugal (2002) e candidato a presidente da República. Fundou o partido político PTS (Partido de Trabalho e da Solidariedade) e o movimento cívico Espaço Democrático.
Mais tarde, em agosto de 1991 publica “tortura em nome do partido único”, "A tortura em nome do partido único: do PAICV e sua polícia política" em 1991, “A Saga das as-sagas e das graças de nossenhor” (1992), “Cabo Verde: uma experiência política nos trópicos" (1996), "A democracia em Cabo Verde" (2005) e por ultimo "Poemas do tempo de trevas: Saga" (2008).
Em vida, Onésimo Silveira realizou uma doação de parte de sua biblioteca para a Universidade do Mindelo, contribuindo assim para o enriquecimento do acervo cultural da instituição. Após sua morte, a família realizou outra oferta, honrando o legado intelectual e cultural do falecido líder político e escritor.
O corpo de Onésimo Silveira está sepultado no cemitério de São Vicente. Sua vida foi marcada por uma busca constante por justiça e progresso para Cabo Verde, deixando um legado duradouro na história do país.

Linha Cronológica do Dr. Onésimo Silveira